At 1,1-5
Uma unção para
uma nova visão!
Isso é
realmente necessário?
Não temos o
que basta?
Introdução
Considerando o
mundo social que é precursor das obras de Lucas, o movimento oriundo de Jesus
comunica as comunidades uma herança profética. O que significa a figura
histórica de Jesus de Nazaré para a comunidade primitiva.
Baseado nisso
o terceiro Evangelho e os Atos dos Apóstolos nos dão um entendimento bíblico
que a vida de Jesus propôs uma nova perspectiva de ser comunidade. O “movimento
de Jesus” é o conjunto de homens e mulheres que, embasados nas palavras e
prática de Jesus de Nazaré, intentaram anunciar uma forma diferente de viver o
judaísmo, e, depois, de viver na sociedade romana. A igreja se insurge como um
movimento profético que vai contra a estrutura estabelecida, que provoca na
sociedade a sua volta, um sentimento de mudança.
Elucidação
A obra de
Lucas em dois volumes evidencia a herança profética deixada por Jesus. O
cristianismo nasce a partir da figura de um judeu praticante, habitante da
Galileia, denominado Jesus de Nazaré. Da mesma forma como outros antes dele,
Jesus tem um relacionamento conflitante com a forma dominante de viver do
judaísmo de seu tempo.
Jesus foi um
profeta, um religioso que viveu à margem do judaísmo tradicional, guiado pelo
Espírito. A mensagem de Jesus, ao contrário da mensagem escatológica de João
Batista, anuncia a presença imediata e inicial do reino de Deus.
Jesus se
apresenta como alguém que reage contra a ordem religiosa estabelecida. Ele
visava construir uma sociedade em que a dominação de uns homens sobre os outros
fosse substituída pelo serviço mútuo incondicional, em que as relações humanas
fossem caracterizadas, não pela competição, mas pela reciprocidade viva.
Lucas ressalta
por vezes que Jesus é “um profeta poderoso em obra e em palavra, diante de Deus
e de todo o povo”, dirão os discípulos de Emaús (Lc 24,19). Formou em torno de
si um grupo de discípulos e prega outra forma de entender Deus, a forma de com
ele se relacionar, bem como a forma de se relacionar com as demais pessoas.
Tendo
acompanhado Jesus durante o seu ministério público, os discípulos, após a sua
morte, fundaram uma comunidade que, animada pelo mesmo Espírito, prosseguiu no
caminho profético.
Neste sentido,
Jesus de Nazaré caracteriza-se perfeitamente como a voz profética. Após sua
morte e ressurreição, conforme o relato dos Evangelhos, seus discípulos trilham
as pegadas do crucificado formam um grupo que questiona nas discussões internas
do judaísmo, apresentando Jesus como aquele que todo o povo judeu esperava, e,
portanto, a concretização da busca judaica. Nasce a Igreja num contexto de
“contestação ao sistema religioso judaico, de expectativa do fim do mundo, e de
destruição das barreiras sociais.”
Assim a ação
do Espírito Santo aparece como força dinamizadora e orientadora na prática de
Jesus, na primeira obra lucana, em Atos dos Apóstolos a presença consoladora do
Espírito Santo atua na prática e no testemunho dos seus discípulos.
A narrativa de
Atos enaltece a imagem de um cristianismo essencialmente profético-carismático,
fundado e dirigido pelo Espírito Santo. Para Lucas, o envio do Espírito Santo é
a premissa necessária para o surgimento da Igreja é a própria unção. Atos trata da “relação do Espírito com Jesus, do
seu efeito no cristão individual, bem como da sua função para o todo da
Igreja.”
Atos pode ser
compreendido como o “Evangelho do Espírito Santo segundo Pedro, Paulo e as
comunidades de origem”. Só em Atos o vocábulo pneuma (espírito) é repetido
cerca de setenta vezes neste livro, o que representa um quinto das utilizações do
termo no Novo Testamento. Lucas ressalta que Jesus é o portador do Espírito.
Toda sua atuação é um agir no Espírito (Lc 4,1; At 10,38). Ele possui o
Espírito e dispõe dele. Somente na sua
despedida ele abre aos discípulos a perspectiva de receber o Espírito, assim
inicia-se a narrativa, com uma promessa do ressuscitado a seus apóstolos (Lc
24,49; At 1,8). Anteriormente, em At 1,4 ordena que esperem em Jerusalém a
realização da “promessa do Pai”, isto é o batismo no Espírito Santo (At 1,5).
No relato do Pentecostes, Lucas evidencia a promessa cumprida por Jesus, que
recebe de Deus o Espírito, para derramá-lo sobre a comunidade de discípulos (At
2,33), logo apresenta o Espírito que invade os fiéis, tornando-os profetas.
Minha pergunta
é: precisamos mesmo de uma nova unção? Visto que para ter uma nova visão seria necessária
uma unção diferente?
Fica muito
claro em todo o Evangelho que a Igreja cumpriu sua missão estando dentro da
orientação do Espírito Santo, e o que ele fez no passado não ira mudar no
presente. A unção será sempre a mesma nós é que queremos uma nova visão, essa
visão seria uma tentativa de nos agradarmos ou agradarmos a Deus? Afinal ainda
que vivamos em um século bem diferente da igreja primitiva temos as mesmas
carências e sofremos das mesmas debilidades humanas. Vejamos o que a comunidade
primitiva pode nos orientar neste sentido. Tratarei o termo visão no sentido de
herança profética deixada por Jesus.
Transição: A herança profética de Jesus é a visão que precisamos
1.
Dar poder para testemunhar
At 1,8
evidencia claramente a intenção do Espírito. Uma nova maneira de ser, mas
também uma nova maneira de agir! Ser testemunha é ser diferente é ter atitudes
diferentes. É o desafio de se superar quanto ao ser. É poder dizer que não vivo
mais eu mais Cristo vive em mim Gl 2,20.
Essa visão
(herança) que Jesus traz modifica centenas de vidas que viviam as margens da
sociedade. Cobradores de impostos, prostitutas, roubadores, etc mudam de vida
passa a ser cidadãos. Passam a ser pessoas conscientes, morais, éticas,
evidenciando essa nova vida em Cristo.
2.
Dar poder na direção da igreja
Uma
continuidade da autoridade se delineia entre o Espírito profético do qual está
revestido Jesus no Evangelho e o mesmo Espírito que desce sobre a comunidade.
Essa delineação supõe uma continuidade da mesma autoridade exercida por Jesus, que agora se manifesta pela atuação
profética da Igreja sob a direção do Espírito.
É o que chama
a atenção de Lucas que com freqüência fala da função do Espírito na definição
da direção que a igreja deva seguir. Em
Atos, Lucas mostra que a Igreja se depara com questões críticas e situações de
soluções difíceis, por exemplo, as intervenções do Espírito forçam Filipe (At
8,29) e Pedro (At 10,19;11,12) a acolher não judeus na comunidade através do
batismo. Paulo e Barnabé são enviados pela comunidade de Antioquia para a missão
entre os gentios com base numa orientação do Espírito (At 13,2), e o êxito
deste trabalho resultou em reconhecimento da Igreja, concluindo que Deus “abriu
a porta da fé aos gentios” (At 14,27). No grande concílio de At 15, Tiago e os
irmãos reconhecem os cristãos gentios como integrantes do povo de Deus em
igualdade de direitos “o Espírito e nós decidimos” (At 15,28).
O ápice dessa
orientação é vista na vida do apóstolo Paulo, cujo itinerário missionário é
determinado até nos detalhes por orientação do Espírito: o Espírito o impede de
seguir a sua missão desejada (At 16,6); o envia em uma visão noturna para a
Grécia (At 16,9s) e também traça o caminho rumo a Jerusalém, e assim para a
prisão e sofrimento em Roma (At 19,21; 20,22; 21,11).
Hoje é comum vermos
uma busca exarcebada por métodos de crescimento, e de administração que sejam
vigorosos, quando que dêem certo! Isso encanta aos olhos, mas a igreja
primitiva aprendeu a bela atitude de buscar em oração as respostas necessárias
para sua direção e isso não pode mudar hoje.
3.
Dar poder para se solidarizar
1 Co 12,7. A
ação, a manifestação do Espírito tem como alvo um bem em comum. Não pode ser
algo rifado! Vendido, negociado, banalizado, desvalorizado, ridicularizado.
Essa manifestação não pode ter ações egoístas de um grupo em específico, nem
pertencer a uma classe elitizada, ou melhor dizendo a uma classe sacerdotal.
Não.
A ação, a
atuação, a manifestação dos dons do espírito são uma dádiva da graça divina
para a solidariedade dos irmãos e para a manifestação da misericórdia de Deus a
humanidade. Em 1 Co 14,22 vemos que os dons constituem um sinal para os que não
crêem visto que além de serem para a edificação da igreja também é uma
manifestação da graça para os incrédulos.
Entendemos
então que a igreja necessita, além de uma estrutura burocrática necessária para
sua organização quanto as leis do país, da busca constante da ação do espírito
em suas estruturas.
Somente o
Espírito trará vida a Igreja, fará sair do engessamento comum da rotina da
instituição. Dará sensibilidade na missão, no trato com o irmão, no
reconhecimento do pecado, da justiça e do juízo. Trará nos corações a
inquietação de ajudar o próximo, de ser igreja na prática e não só em palavras.
Conclusão
Essas verdades por muitos têm sido irrelevantes, visto que a atualidade tem descartado aquilo que é essencial, e trocado por coisas que são passageiras. É importante construir uma identidade pautada no testemunho, na direção e na comunhão que o Espírito Santo tem a nos ensinar. Não substituindo tamanho apreço de graça pela futilidade do mundo Gospel de hoje que a cada dia envergonha a igreja e faz Deus entristecer. O que Jesus conquistou na cruz como diz aquele louvor: é direito nosso é nossa herança. Podemos também dizer é a nossa unção é a nossa visão.
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